Olá amigos. Último dia
do ano! Nossa, quanta coisa aconteceu e realizamos durante os 365 dias, não é
mesmo?
Finalizo 2013 com mais
uma história “Caminho”, que trás esperança para Lenita.
Bem, espero que gostem
do conto.
Tenham uma passagem
maravilhosa e um Feliz Ano-novo!
Desejo tudo de bom a
todos vocês, e que sejamos abençoados no ano vindouro.
Grande abraço,
Miriam
Conto
Caminho
Pessoas rabugentas estão em todas
as partes do mundo, assim como os avarentos, estes são os piores, pois alteram
a balança do universo, ou melhor, o pêndulo de sustentação, que faz com que o planeta
consiga balancear suas energias de si próprio como de todos os seres que aqui
habitam, sendo o Homem o único que causa transtornos a essa balança.
No edifício, era conhecida também como “a mulher das lamentações”, porque nada
estava bom e sempre tinha alguma coisa a se queixar.
Mesmo com esse temperamento, Helena, ou Lenita - nome escolhido por sua mãe,
leitora do escritor Júlio Ribeiro e o nome foi do romance A Carne - tinha
amigos já não eram muitos como no passado, mas ainda restavam alguns que
gostavam dela; acho que sentiam pena.
— Lenita querida, o que fará nas festas de final de ano? — Ligou Fátima, para
convidá-la a ficar em sua casa.
— Amiga, agradeço por seu convite,
mas passarei o Natal e o Ano-Novo aqui mesmo.
A amiga entendeu que ela não queria ver ninguém, bem, todos os anos era a mesma
coisa e há anos Lenita ficava em casa sozinha, reclamando da vida,
desperdiçando o tempo precioso em vão.
Naquela noite de Natal, após a Missa do Galo Helena foi dormir. O relógio do
criado-muda marcava 2 da manhã, horário em que levantava todas as noites para
beber água. A vida dela era uma rotina até mesmo na hora do descanso.
— Preciso beber água, falava a mulher, mas em tom de reclamação, e mesmo assim
foi até a cozinha. Quando retornava para o quarto, Lenita teve uma surpresa
inesperada.
— O que está acontecendo? — Indagou a mulher, que se encostou no corredor de
acesso, ao se deparar com três portas diante de si.
Ela esfregou os olhos e ficou parada, sem reação alguma, pois o apartamento
tinha dois quartos e agora diante dela estavam as três portas.
— Meu Deus, isso só pode ser sonho! — Lenita voltou para a cozinha e ficou lá
por alguns minutos, sem saber o que fazer. Ela sabia que teria que retornar ao
quarto e assim o fez.
A mulher saiu da cozinha e parou imóvel, olhando para as portas. Um desespero
tomou conta de seu ser e ela não tinha a quem recorrer, teria que sozinha,
fazer a escolha certa, assim como muitas que fizera durante toda a sua vida.
Respirou fundo e deu os primeiros passos, ela abriria a porta do meio, sim,
essa seria a entrada de seu quarto. E assim o fez girando a maçaneta até que a
porta se abrisse. Ao entrar no quarto, a porta se fechou. Helena correu e tentou
abri-la, em vão.
Lenita fechou os olhos e ficou de costas para o quarto, parada e sem nenhuma
atitude. Lentamente ela foi se virando de tal maneira, que se machucou na
maçaneta, pois o corpo estava “colado” a porta. Lentamente a mulher foi tomando
fôlego e coragem e abrindo os olhos.
Sem estrutura emocional, Lenita foi escorregando ao chão, pois não acreditava
no que via. No entanto, levantou-se rapidamente e girou a maçaneta várias
vezes, batendo na porta e pedindo socorro. Ninguém iria em sua ajuda, ela teria
de encarar o que viesse pela frente.
E Lenita ficou observando o que se passava, sem compreender. O quarto não era o
dela, e estava no meio do nada, e adiante, um caminho a percorrer.
A mulher, mesmo sem forças, tinha de enfrentar aquele desafio.
— Meu Deus, eu te suplico, porque tudo isso está acontecendo comigo? — O que o
Senhor quer de mim? E sem resposta alguma, a mulher enxugou as lágrimas e se
preparou para a caminhada.
Ela se desgrudou da porta e foi andando devagar. Estava escuro e o estreito
caminho com pouca iluminação. A mulher deu mais uns passos e ao olhar para
trás, a porta estava tão longe que mal ela podia ver. — Como isso é possível?
Indagava, eu nem desgrudei direito da porta e ela está quase desaparecendo! E
uma voz interior silenciou seus pensamentos, para que ela pudesse relaxar a
cada passo.
No caminho, juntaram-se mais três mulheres com ela e todas prosseguiram
lentamente para algum destino. Mais adiante, o lugar ficou mais claro e Lenita
observou as mulheres, que falaram com ela. A mais nova era cheia de vida,
falante, risonha, linda e feliz. Já a mulher balzaquiana tinha uma fisionomia
ranzinza, não falava muito e as poucas palavras eram para reclamar de alguma
coisa. Ao olhar para a terceira, esta era uma senhora de cabelos brancos,
pálida, magra, sem vida e sem forças até para falar, ela apenas olhava e
caminhava; sua expressão era de tristeza. Lenita se arrepiou por inteiro, mas
todas continuaram a caminhada.
A mulher mais jovem percorria cantando, uma melodia alegre e saudável. Helena
tentou conversar com ela, mas recebeu um cutucão e um sinal de não da mulher
balzaquiana.
A cada passo, o caminho tornava-se diferente. De totalmente escuro, o percurso
ficara mais bonito com lindas árvores e pássaros aos galhos. O caminho cortava
uma cidade. Pessoas acenavam para a mulher mais nova e mandavam beijos, eram
seus amigos e parentes. Todos tinham suas vidas e a cidade também, e nada
interferia no caminho. Era como se elas estivessem dentro de um brinquedo,
aqueles montáveis com trilho de trem e cidade ao redor. A sensação era essa.
Ao olhar para trás, a porta do quarto desaparecera e Lenita não mais conseguiu
ver sua casa. Isso a deixara apreensiva, pois
viu que o caminho estava chegando ao fim e se aproximavam de uma casa grande,
bonita e com a natureza ao redor.
Lenita viu uma mesa e cadeiras e um homem se aproximou. Era um senhor de
bengala, chapéu e muito bem vestido. Era magro, com cabelos grisalhos e sem
barba.
Durante
o tempo de espera, Lenita absorveu-se em seus pensamentos e nem percebeu que
não havia mais ninguém, apenas as quatro.
O senhor fez sinal e pediu para que todas fossem até ele.
As mulheres sentaram e o homem
pediu para que a mais jovem contasse a sua vida.
Ela era brilhante, cheia de ideias, vigorosa e amante do viver. Na infância e
na adolescência, também tivera momentos de tristeza, de incompreensão porque
ela tinha um espírito livre e aventureiro. Fizera muita coisa na juventude e
ela preservava, acima de tudo, a sua liberdade. Porém, casou-se e teve um filho
e a vida para ela foi se modificando e tornando-se rotineira e chata.
— Ela teve um filho! Admirou-se Helena, pensando no seu que não o via há alguns
anos, após uma briga quando ambos pararam de se falar. E Lenita começou a
chorar de saudades, não percebendo que a jovem terminara sua conversa. O senhor nada falou apenas fez sinal para a mulher de
meia-idade.
E assim, esta também contou sobre seus acontecimentos. De quando rompeu com o
único filho e não mais foi procurá-lo, motivo de tristeza do marido, que
faleceu com essa mágoa. Das reclamações de tudo na vida, de morar em um lugar
que não gostava, e por aí foi a lista de insatisfações e das coisas mesquinhas,
entre uma infinidade de fatos desagradáveis.
O
senhor fez com que a mulher terminasse e também nada falou a respeito de tudo o
que ouviu, apenas fez um sinal de que havia terminado as entrevistas.
— Mas como? A senhora e eu, não falaremos? — Questionou Lenita.
— Acho que você não entendeu ainda o porquê está aqui. — Respondeu o senhor. E
com um estalo de dedos, as três mulheres ficaram com a fisionomia de apenas
uma, de Lenita. — Será que agora você compreende? — Disse-lhe o velhote.
— Lenita estava boquiaberta e gaguejou ao falar. Eu tinha suspeitas, pois as
histórias de vida se pareciam com a minha. Bem, sendo assim, faltou a velhota.
Eu queria saber sobre...
—
Psiu, fez o senhor, balançando a cabeça um não e com o dedo na boca, sinal para
que ela ficasse quieta. Digo-lhe que até agora você ainda não compreendeu. —
Falou já sem paciência o homem. — Você com esse temperamento arruinou muito de
sua vida.
— Então, gritou Lenita, querendo saber sobre o futuro. O que tem a se explicar
a senhora?
Lenita virou-se para a senhora, que estava com a aparência de mais sofrimento e
pior do que antes durante a caminhada e se espantou.
Depois disso, o homem pediu que todas se retirassem, pois o tempo se esgotara e
elas deveriam voltar.
No caminho, as quatro voltaram juntas, mas na metade, a jovem se despediu e
depois a balzaquiana. Lenita terminou somente com a velhota. Antes de chegar à
porta de seu quarto, a senhora fez um sinal para que ela refletisse e acenou um
adeus.
...
Ainda era muito cedo quando Lenita acordou toda suada e sentindo-se exausta.
Permaneceu na cama sem forças e ficou refletindo sobre tudo o que passara
durante a madrugada.
Num estalo, saiu da cama e tomou um banho. Comeu alguma coisa rapidamente, pois
tinha pressa; sabia que não podia desperdiçar mais o seu tempo.
Era dia 31 de dezembro. Lenita chamou um táxi e foi até a casa do filho. Essa
era a sua prioridade.
As outras coisas, sim, ela corrigiria ainda no ano vindouro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário